quinta-feira, 21 de junho de 2018

Amai-vos uns aos outros

Belo texto de Jo Croissant, op Cit. p. 81-82.

Gosto muito de fazer memória da primeira troca de olhares no momento da criação, o olhar maravilhado de Adão sobre Eva e o de Eva recebendo este olhar e maravilhando-se por sua vez;  o olhar do Pai sobre o homem e sobre a mulher, sua felicidade: É Deus viu que  isso era muito bom (Gn 1,31). Penso que trazemos em nossos `genes´ a memória do olhar maravilhado do Pai. Dele temos saudade, e cada um à sua maneira está à procura deste olhar através do qual nos sentiremos conhecidos e amados. É por isso que somos tão exigentes em matéria de amor, tão sensíveis à menor falha, à menor indiferença. É por isso também que temos tanto a impressão de não sermos conhecidos, de não sermos amados. Temos muita necessidade de sermos amados totalmente, incondicionalmente, por nós mesmos.
É fácil, então entender por que temos tanta dificuldade para amar a nós mesmos. Que amor humano, com efeito, poderia responder a tantas exigências? Nossos pais não podem dar mais do que receberam. Percebemos os limites de seu amor, pressentimos seus desejos, suas decepções e concluímos mais ou menos confusamente que não éramos amáveis, não estávamos à altura do que esperavam de nós, tendo sempre a impressão de não corresponder às suas esperanças, e então sermos dignos de seu amor, do amor de Pai. Este medo de não sermos aceitos, de não sermos amados, nos conduz a toda sorte de comportamentos para ganhar o amor, o reconhecimento, mas sem respeitar o que somos de verdade, dando-nos sem cessar o sentimento de um distanciamento entre o que somos e o que aparentamos ser, afastando-nos sempre mais de Deus.
Olhares amorosos ou feridas de nossos pais, olhares confiantes ou inquietos, olhares pacíficos ou angustiados, olhares de desejo ou de desprezo, olhares de cobiça, dominadores, impuros ou indiscretos. Todos esses olhares atingem-nos em profundidade, modelando em nós uma falsa personalidade, aprisionando-nos numa imagem de nós mesmos que acabamos por odiar.

Este belo texto a penas nos enaltece a frase deixada como testemunho de Jesus:

Amai-vos uns aos outros como eu vos amei.

Ao utilizar o pleonasmo (amai-vos uns aos outros), Jesus enfatiza a necessidade de dar e receber amor até o extremo, até a morte na cruz. Ao fazer a comparação (como eu vos amei) deixa bem claro o amor cujo qual refere-se.

Com este belíssimo texto enfatizamos o que foi construído na catequese, o Amor que Deus nos revela. E como é forte o sentimento que devemos nutrir e demonstrar com nossos atos, participando ativamente nas Missas, nós confessando, respeitando nosso próximo, incentivando os que tem dificuldades, interagindo de forma construtiva na fé cristã. Aprendizagens estas que devemos compartilhar, agregar e levar conosco sempre.

Texto retirado do livro - Tecendo O Fios de Ouro Caminho Ordo Amoris com título Fé como memória, vida como história, das autoras Maria Emmir O. Nogueira e Silvia Maria Lima Lemos, edição 2013 da editora Shalom

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